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Sempre Haverá Um Incômodo

Sobre um desafio diário e recorrente.

Danilo H.
3 min readFeb 2, 2024

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Inicialmente, esse texto se chamaria “Sempre Haverá Um J.”, mas eu percebi que os incômodo também mudam de nome, de forma e de endereço.

Essas palavras são dedicadas para todas os nossos incômodos.

Chego pelo manhã, bato o ponto, pego um café na máquina, abro a persiana, sento no meu lugar, ligo meu notebook, dou de cara com a sua presença na minha frente e sinto um incômodo absurdo.

Nada em você me agrada.

Não gosto da forma do seu rosto, do som da sua voz, das suas atitudes, da sua necessidade de que alguém esteja abaixo de ti, das suas piadinhas e da sua incessante vontade de falar alto para chamar atenção.

Porém, o problema não é você, especificamente.
Qualquer pessoa que tenha qualquer um desses traços é capaz de me tirar dos eixos em pouco tempo.

Será que devo acreditar na premissa de que atraio esse tipo de pessoa ou é mais seguro crer que esse tipo de gente está em todos os lugares?

Não adianta fugir! Você sentirá incômodos em todos os lugares que frequentar.

Nem pense em se demitir, pois você encontrará um novo espécime com as mesmas características no seu novo emprego.

E isso se aplica para a nossa família, nossos relacionamentos e novas amizades.

O incômodo é inevitável.
Ele sempre existirá.

E se você não estiver sentindo um incômodo uma vez ou outra, talvez você incomode alguém e nem saiba.

Não dá pra prever quando ele virá, como ele se veste, se ele tem um dicção péssima ou se fala com uma oralidade exemplar (e em cinco idiomas).

O incômodo não tem forma, nome ou endereço… mas tem uma origem.

Todo incômodo surge, sem dúvida alguma, de dentro de nós… e isso já diz muita coisa.

Como já diria um rapazinho chamado Freud, nós enxergamos o mundo e nossas relações partindo do nosso próprio ponto de vista… raramente a gente conhece a outra pessoa em sua totalidade.

Dito isso, ao julgarmos o outro ou identificarmos o tal incômodo nos outros, estamos, na verdade, projetando aspectos nossos em outra pessoa.

Nos incomodarmos com o outro é, de certa forma, nos incomodarmos com nós mesmos também.

Afinal, quem é que nunca considerou que a solução para determinados incômodos fosse, justamente, que tal pessoa fosse mais como nós mesmos?

Antes de nos queixarmos de alguém, precisamos lembrar que o incômodo flui de nós para os demais e não o oposto.

Uma coisa é alguém cruzar os seus limites, te agredir (desde uma microagressão até uma agressão física) ou interferir na sua vida, o nome disso é “violência” em sua forma mais pura.

Contudo, quando julgamos o outro e fazemos juízo de valor sobre o que ele faz ou deixa de fazer, nós estamos semeando o incômodo.

E, por conta disso, é que ele vai sempre aparecer onde estivermos.
O problema não é a pessoa x.
O problema não é o lugar y.

Às vezes, nós é que carregamos o incômodo ou o disseminamos em novas oportunidades (e sim, é doloroso ler isso).

Nem toda situação de incômodo é ruim, podemos utilizá-las para corrigir as nossas próprias falhas… pois, vejam só, nós erramos também.

E isso tem que ser exercitado todo dia e sempre que possível, pois, na primeira oportunidade que tivermos, projetaremos no outro os nossos próprios fantasmas.

Haverá sempre uma segunda-feira, uma cidade, uma fala, uma J., um B., um fulano e um incômodo.

O que muda mesmo é que o fazemos quando esse sentimento aparece.

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Danilo H.
Danilo H.

Written by Danilo H.

Aqui eu escrevo sobre desconfortos, alegrias e sobre nós.

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