Quarentena — Semana #2
Fui inventar de te conhecer à distância pouco antes desse vírus se espalhar por aí e aqui estou tentando entender o que é tudo isso.
Estou em uma zona de quarentena e você em outra.
Separados por uma distância segura e por mãos úmidas de álcool em gel.
Não posso ir ao seu encontro (e nem você ao meu) dado ao atual confinamento imposto pelo bem maior.
Será que esse desejo vai durar até o fim do isolamento ou ele sumirá dentro da curva dos relacionamentos que morrem antes de acontecer?
Não sei.
Na verdade, ando sem muitas certezas ultimamente.
Eu bem que gostaria de tirar essa história a limpo, seria mais fácil constatar se você é tudo isso mesmo ou apenas uma alucinação da minha carência que não pode ser suprida nesse período.
Escrevo para você.
Escuto sua voz.
Vejo suas fotos.
Mas não posso tocar a superfície do teu corpo.
Enquanto isso me contento em tocar o meu próprio corpo com os olhos fechados tentado visualizar o pouco que sei/vi/ouvi de você.
Efeito Exódia.
Dobro os dedos do pé quando algo sai de mim depois de tanto pensar em você. Essa dor que sinto é diferente, um anestésico para a alma.
Olho para o teto do meu quarto pela quadragésima vez essa semana.
Olhar para o teto e lembrar de alguém é o novo “olhei para lua na esperança de saber que você também estava olhando”, só que um pouco sem magia.
Saudades do seu corpo que ainda não conheço.
Saudades daquilo que nunca tive e que minha mente preencheu para saciar o meu desejo temporário.
Entretanto não sei dizer se você será temporário como um quarentena.
Espero me contagiar com a sua humanidade quando tudo isso acabar.
