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Procura-se Um Apego Seguro

Sobre apegos e uma linha imaginária.

Danilo H.
3 min readMay 5, 2024

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Talvez esse texto não faça tanto sentido para alguém que tenha experenciado um apego seguro desde a infância.

Para além da afeição, carinho e dedicação a algo ou alguém, o apego é um sentimento um tanto curioso que é diretamente afetado pelas nossas vivências.

De forma não surpreendente, podemos experenciar apegos distintos ao longo da vida… afinal, dentro do espectro do apego, há espaço para que essa mobilidade aconteça.

É possível, por exemplo, ter um apego mais evitativo em um momento da vida, passar por uma fase onde o apego é mais desorganizado e, com o tempo, desenvolver um apego mais seguro (e o caminho inverso também é possível).

Nós sempre partimos de um marco zero pessoal e, por conta disso, essa “mobilidade” do apego pode parecer um pouco mais delicada para uns do que para outros.

E quando se trata de um sentimento, geralmente voltamos às nossas primeiras referências.

Enquanto a intimidade pode soar como algo delicioso (e até mesmo engraçado) para alguns, muitas pessoas podem se sentir desconfortáveis ao dividir momentos íntimos.

Geralmente, pessoas que tiveram uma criação suprimida de afeto, tendem a minimizar a importância de um laço afetuoso ou notam uma dificuldade em confiar em outras pessoas. Por isso, o apego evitante parece como uma parede de gelo que foi levantada entre duas pessoas.

Já as pessoas que vêm de ambientes instáveis (com privações diversas ou violentos) podem desenvolver um apego desordenado, logo, elas podem desejar a proximidade afetiva de alguém e, ao sentirem esse sentimento por perto, não sabem muito bem como lidar com ele.

As possibilidades são imensas, mas, fatalmente, os olhos de muitas pessoas miram no afeto que está no topo da lista e que parece “inalcançável”.

O apego seguro parece ser uma miragem em meio ao cenário atual de insegurança que vivemos.

Acreditar na bondade alheia.
Entender que você é merecedor do amor.
Sentir conforto nos momentos íntimos.
Se comunicar de forma clara e aberta sem medo de retaliação.
Ausência do medo de demonstrar afeto.

Imagine viver em um ambiente onde todos esses pontos (e muitos outros) são regras, como você se sentiria?

Ou melhor, que pessoa você seria hoje?

Sabe o que é mais irônico? A pessoa que expressa o apego de forma segura também tem seus episódios evitativos e pode se sentir confuso ao longo da vida.

O apego seguro, para operar corretamente, conta com esses espaços de oscilação justamente para que exista a manutenção dos sentimentos.

Quase sempre, isso é aprendido em ambientes onde as necessidades físicas e emocionais de uma pessoa são encaradas com seriedade e sensibilidade (infelizmente um privilégio de poucos).

E como podemos aprender algo que, muitas vezes, nunca experenciamos antes?

Para os que vieram de ambientes saudáveis e seguros, hoje é apenas mais um dia normal.

Já para quem não teve a oportunidade de ser ouvido, escutado, abraçado e compreendido no passado, o caminho é um pouco mais longo.

Não há uma linha imaginária que separe os apegos, portanto, podemos transitar por eles e podemos quebrar um elo que nos pretende a um único tipo de apego.

Confiar é difícil.
Sentir o afeto se manifestando pode ser assustador.
Expressar um pensamento pode parecer o fim do mundo.

Contudo, se quisermos nos apegar de uma forma mais saudável, teremos que engatinhar em muitos quesitos.

Inclusive, desaprender um atitude pode parecer mais difícil do que aprender algo novo.

Antes de desejarmos, exclusivamente, o apego seguro, precisamos saber o lugar que ocupamos neste espectro.

Sermos justos com nós mesmos é um excelente começo.

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Danilo H.

Aqui eu escrevo sobre desconfortos, alegrias e sobre nós.