Photo by Adrian Dascal on Unsplash

Parcialmente

Sobre o desejo pela metade.

Danilo H.
2 min readJul 21, 2024

--

Uma pena que essas palavras vieram tarde demais, pois elas teriam me poupado bastante tempo.

“Isso, pode ser só a metade!” ou “Perfeito, pode ser 1/3 deste aqui!”.

Esse é o tipo de coisa que eu digo no hortifruti perto da minha casa, ao comprar uma melancia ou alguma fruta grande demais para mim!

Contudo, o mesmo não pode ser dito de ti.

Detesto aquela sensação de não estar em um lugar por completo e essa foi a faca de dois gumes que me feriu. Eu quis tanto te mostrar quem eu era e, ao notar quem eu sou, você optou por me desmontar.

Nesse sentido, a vulnerabilidade me tirou dos eixos.

Quando eu percebi, já era tarde demais.
Naquela mesa, eu me derramei sem dó.
Mostrei quem eu era.
Abri o jogo.

Então, para a minha infeliz surpresa, você separou as partes que queria de mim em um lado da mesa e se desfez do restante.

A metade descartada é que decidiu escrever os detalhes daquela noite.

Naquele instante, eu me senti em um carro em alta velocidade com os freios enguiçados. E eu simplesmente não sabia como iria parar.

Eu só quis descer daquele carro nem que eu tivesse que pular.
Contudo, tomei a pior decisão e me mantive no banco do passageiro.

Minhas palavras eram bem-vindas, contanto que eu concordasse contigo.
Meu beijo te saciava, mas tinha que ser no seu tempo.
O meu cuidado contigo te cativou, porém, quando eu cuidei de mim, você achou melhor desconversar.

Desejo parcial.
Seleciona o que gosta e o restante faz questão de obliterar.
O que importa é o que você decide.
Ponto.

O que não lhe serve, bom, vai pra debaixo do tapete.
Agradou? Fica na mesa feito um enfeite. Por outro lado, se desagradou ou não brilhou os olhos? Fará companhia para as migalhas no chão.”

Essa história de ficar com um pé dentro e outro fora não combina comigo.

Fui embora, parcialmente.
Uma parte de mim virou fumaça e escapou pelas minhas mãos, espero que não seja uma cartilagem de dentro.

Aquele tipo de sentimento que só cresce uma vez e não se restaura após a perda.

Sentado no chão da estação, eu não me vi por completo no reflexo da porta de vidro.

Será que eu sumi?
O que será que foi embora?
O que foi que sobrou?

Qual parte importa mesmo?
Não deveria ser tudo, ou melhor, o todo?

Hipnotizado e perdido em pensamentos, fui acordado por um funcionário do metrô me dizendo que aquela era a última composição e que eu precisava embarcar.

O tempo voa quando você não ocupa um espaço por completo.

Pensativo, entrei naquele vagão e fui sugado por uma barulho superior ao da minha própria mente.

Parcialmente desejado.
Completamente frio e vazio.

--

--

Danilo H.

Aqui eu escrevo sobre desconfortos, alegrias e sobre nós.