- É indicado ler Paradeiro #5 — Carta ao J. antes de seguir adiante.
Era meio-dia quando K. subiu a Rua Aluísio de Carvalho, no bairro de Vitória, em Salvador, e seguiu seu caminho tranquilamente pelo Corredor da Vitória com destino ao lugar que ela tomara para si.
Ao chegar no Largo da Vitória, ela viu uma figura justamente em seu lugar preferido, quem ousaria?
Ao passo que se aproximava (e desviava das pessoas que se enfileiravam para acessar uma mansão nada discreta que fica ali perto), ela reconheceu o indivíduo.
J. havia decodificado a mensagem e encontrou seu lugar seguro.
Eles se abraçaram por um longo período e caminharam para o Mirante da Vitória, que tem vista privilegiada para o Yacht Club, para o Forte de São Diogo e para o mar de prédios de Vitória.
Após um breve silêncio, J. perguntou:
— “Tá, eu te encontrei! E agora? E por qual motivo você veio para cá?”
— “Se eu tivesse me mudado para a rua de trás de casa ou para cá, teria sido a mesma coisa. Por exemplo, não faz a mínima diferença onde eu esteja, a chance de eu encontrar com alguém parecido com aqueles que me fizeram mal é a mesma…”
— “E por quanto tempo você vai ficar aqui?”
— “A ideia é ficar alguns meses ou até que eu volte para mim mesma definitivamente… e você, volta quando?”
— “Preciso voltar daqui dois dias, mas virei outras vezes para te ver!”
— “Assim espero!”
Eles sorriram e ela contou uma pouco sobre a cidade para ele. Contou sobre o calor que sobe do chão e do mormaço que emana entre as pessoas dali.
Por que as pessoas são mais calorosas em alguns lugares e extremamente frias em outros? Aí estava uma pergunta que eles não sabiam responder.
Contou também sobre os museus, palacetes, ateliês e tudo mais que está espalhado pelos quatro cantos de Salvador.
Em seguida, J. perguntou:
— “E as cartas? Parou para sempre?”
— “Penso que ‘sempre’ é uma palavra forte demais, mas acredito que as pessoas estarão bem sem elas… já resolvemos urgências demais, nem tudo está ao nosso alcance!”
— “Justo… aliás, aqui não somos J. e K., né?”
— “Não, aqui não precisamos de um disfarce… aqui somos Karla e Jonas, simples assim!”
— “Pensando bem… talvez eu fique mais uma semana!”
Ambos riram e aproveitaram para ficar por ali para apreciar o cair da noite na companhia dos gatos que chegaram na praça pedindo carinho.