Se existem muitas coisas acontecendo ao mesmo tempo na sua vida, então essas palavras são para você.
Desbloqueio o celular com uma mão enquanto me seguro para não cair dentro do vagão do metrô.
Meu feed me mostra um milhão de coisas distintas e que se completam, desde fotos muito bem focadas, pessoas um tanto musculosas, diplomas, volantes de carros (parados no trânsito) e muitos sorrisos com legendas motivadoras.
O culto (ou fetiche) que existe ao redor dos novos começos e dos ciclos que chegam ao fim são responsáveis por afastar (propositalmente) o foco do que está acontecendo neste momento.
Afinal, o agora parece tão sem graça em comparação a todo o resto!
O momento entre o começo o fim é, geralmente, cheio de percalços.
Haverão os dias onde desistir é sim uma opção (LinkedIn, ninguém te chamou).
Haverão também os dias em que seguir adiante parecerá um erro terrível e que tudo isso nem deveria ter começado.
Ah, não podemos esquecer também daquela sensação ingrata de que encerramos o dia sem qualquer tipo de avanço.
Ponto bom: sobreviver mais um dia.
Ponto ruim: ter a plena certeza de que naquele dia você só existiu.
Isso para não mencionar a sensação de que todo mundo está evoluindo na velocidade da luz enquanto você quase perde a hora de acordar.
A gente deveria valorizar mais os Entre-Dias ao invés de fingir que eles não existem.
Entre o clichê: “Estou dando um novo passo na minha vida rumo a um sonho…” e o suspeito: “Hoje encerro mais um capítulo da minha vida com a certeza de que…” existe uma infinidade de histórias não contadas.
Existe a dor.
Há o tropeço.
Tem também a agitação que nos faz abandonar a inércia.
Além disso, existem dias em que a dúvida dança pelos cantos da mente.
É nos Entre-Dias que a vida acontece… é onde a gente conhece a nossa própria essência, limites, dores e pequenas felicidades que não viram conteúdo no mundo do “me conte tudo em 15 segundos”.
Na real, poucas pessoas realmente se importam se você fez três horas extras por dia durante um ano para conseguir aquela promoção.
Poucos são aqueles que vão te querer por perto quando você não suportar a si mesmo devido ao peso dos dias.
Isso não vira uma foto no feed.
Isso entra na conta dos Entre-Dias e fica bem longe dos olhos alheios.
Dito isso, te convido a brindar aos nossos Entre-Dias.
Um brinde aos deslizes e erros que rolaram até que algo finalmente desse certo.
Um brinde àquele momento de vulnerabilidade que não foi suprimido.
Um brinde aos dias cujo único “prêmio” foi sobreviver.
E digo mais: se não fosse pelos dias em que seguimos adiante mesmo a contragosto, muita coisa não estaria de pé.
São os Entre-Dias que sustentam os tais “dias de glória”.
Nossos aplausos vão na direção errada. Tanto o Começo quanto o Fim são o produto final de uma infinidade de ações que precisam ser tomadas (e grande parte delas são difíceis, indigestas e contraditórias).
Cabe a nós brindar pelos dias que, literalmente, passam por cima de nós.
Exalte seus Entre-Dias e lembre-se de onde vem a sua força.
Querendo ou não, você é a soma desses dias.
