Olhos Calmos

Um lento relance em Bali que me abalou para sempre.

Danilo H.

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Esse ano, tive a oportunidade de visitar a Indonésia e, durante a minha estadia em Bali, conheci um motorista chamado Kuding.

Durante dez horas, Kuding esteve comigo para visitar alguns lugares da ilha e, ao longo do deslocamento, nós conversamos sobre quase tudo: cultura, política, os idiomas da Indonésia e de Bali, pensamentos que tínhamos em comum e vários outros que apenas surgiram espontaneamente.

Como os deslocamentos eram longos, nós trocamos muitas dessas ideias no carro, pelo retrovisor.

Foi na Indonésia que eu reencontrei algo que jurei estar perdido para sempre: a atenção plena.

Vivemos rodeados de estímulos sonoros e visuais e, raramente, tiramos um tempo para prestar atenção ao que acontece ao redor.

Foi nesse sentido que os olhos calmos do Kuding me surpreenderam.
Ele olhou dentro de mim a viagem inteira.
E senti que ele abriu esse espaço para mim!

A paciência.
A escuta.
A barreira da língua.
A paz ao discordar de mim.
A felicidade em escutar algo na língua dele.
E a tranquilidade de expor o que sente sem medir as palavras.

Aquela ideia de pedir licença para compartilhar a vida com outra pessoa.
Um cometa que cruza a atmosfera de uma planeta e libera luzes e reverberações.

Kuding será sempre um lembrete de que ainda existe espaço para ver e ser visto sem alarde, sem uma foto para eternizar, pois o momento foi escrito nos cantos da alma.

Uma paz avassaladora que é, ironicamente, quase impossível de experenciar na correria da cidade grande.

E tenho certeza que esse olhar calmo viverá para sempre dentro de mim.

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Danilo H.
Danilo H.

Written by Danilo H.

Aqui eu escrevo sobre desconfortos, alegrias e sobre nós.

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