O Preço da Paz
Sinos tibetanos.
Terapia aiurvédica.
Mantras budistas.
Alguma posição de ioga.
Um banho de loja após um dia difícil (juro que não ri escrevendo isso).
Esses são apenas alguns exemplos de coisas estão no imaginário das pessoas ao meu redor quando o assunto é paz.
Apesar do delírio consumista de ir ao shopping e gastar uma grana que você não tem para ficar “em paz”, acho interessante que muitas das coisas que simbolizam a paz não estão por aqui.
Claro, elas podem ser reproduzidas no ocidente, mas é interessante observar que, por consequência, é como se vivêssemos no lugar onde a paz não faz morada… ou seja, no caos.
Há alguns dias, fui tomado por um pensamento um tanto contraditório acerca da paz interior que tantas pessoas buscam.
Como qualquer sentimento, a paz também vem em ondas… logo, também se ausenta.
Não consigo imaginar a paz como a linha de chegada da nossa existência na Terra.
Muito desejada, pouco compreendida.
Apenas três letras, mas com um significado maior do que a nossa compreensão.
Para muitos, a paz está muito próxima de uma dormência que te impede de ser afetado por tudo que acontece ao redor.
É como se um manto cobrisse a sua cabeça e, magicamente, todas as dores causadas pelo exterior cessassem imediatamente.
E creio que é aqui que cometemos um grande equívoco.
A paz é muito custosa e demandará de nós uma maturidade nem sempre disponível.
Para além do desejo de morar em um templo budista e sumir, acredito que diariamente nós temos a possibilidade de trabalhar na paz interior… só que ela não se parece nada com o que esperamos.
A paz surge quando paramos de nos explicar para os outros e realmente vivemos a nossa verdade, seja ela qual for.
A paz floresce quando, uma vez conscientes do nós mesmos, investimos tempo e energia naquilo que fortalece a nossa verdade.
É possível encontrar paz também em permitir não ser gostado, desejado ou requisitado pelos demais.
Ah! E também há paz quando dizemos “não” ao que nos fere.
Outro vetor de paz que é pouco discutido, mas que realmente pode abrir espaço dentro de nós para que a harmonia faça morada, é o difícil, mas necessário ato de aceitar aquilo que não podemos mudar.
Estes processos de paz são tão poderosos quanto as posturas da yoga.
A paz tem um preço tão absurdo que poucos estão dispostos a arcar com ele.
O caos é barato, desordenado e pode entrar em ignição a qualquer momento.
A paz requer um investimento absurdo que só vem com o tempo e com a maturidade.
E sejamos sinceros, nós não estamos preparados para arcar com o custo da paz em determinadas áreas da vida (e talvez nunca estaremos).
Permitir que a paz se achegue irá esbarrar justamente nas nossas atitudes mais tacanhas, nas nossas ações mais podres e naquelas dores que ardem por dentro, mas que não chegam à superfície.
Existem fragmentos de caos dentro de nós, não se engane.
A autoaceitação leva tempo.
Se perdoar parece o fim do mundo.
Aceitar as próprias responsabilidades é assustador.
A paz pode parecer ingrata, mas não é impossível de ser cultivada… e, para isso, teremos que abrir mão de versões de nós mesmos que caminham bem longe deste desejo.
Espero que consigamos discernir o quanto de paz queremos e o quanto de caos estamos dispostos a manter em nossas vidas.