Esse texto é, fatalmente, uma continuação direta de “Eu, você e Slowdive”.
Há um ano, eu saí pelo portão de casa enquanto as pessoas corriam para se abrigar.
Lembro do gélido frio nos ossos que senti enquanto, por ironia, meu coração disparava e irradiava um sentimento que hoje já não existe mais.
Roí minhas unhas, tamborilei os dedos no painel do veículo que me levava até você e lembrei do seu sorriso.
Em minutos cheguei ao local do nosso encontro e você apareceu em seguida.
De modo desengonçado, você fingiu normalidade e me abraçou… naquele dia eu soube que aquele encaixe não me servia mais.
Você pediu um café, eu pedi algo para comer.
O termômetro marcava menos de dez graus, porém, eu estava ardendo por dentro.
Num momento de coragem, te confessei o que eu sentia aqui dentro. Coloquei para fora todos os pensamentos que rodeavam os labirintos da minha mente e, para minha surpresa (mentira), você não disse nada.
Me contorci no ar para traduzir sentimentos em palavras e recebi de ti um silêncio cortante.
Ao notar o constrangimento no ar, você decidiu falar algo, mas já era tarde demais.
Eu dissociei por um momento enquanto olhava o meu reflexo na janela ao fundo e posso jurar que vi uma versão virtual naquele vidro dizendo: “Vá embora! Seu lugar não é aqui! O tempo acabou!”.
Quando voltei a mim, o frio já havia se apossado do meu corpo.
Realmente, a pior verdade que nos acomete é, justamente, aquela que insistimos em não acreditar.
Nos levantamos para ir embora e parecíamos estranhos que seguiam lado a lado na mesma direção.
Você me abraçou com força, porém, eu não retribuí…. neste momento, eu te tratei justamente do jeito que você me tratava… e sei que você sentiu um abalo silencioso.
Encostei na parede e esperei, por muito tempo, minha carona para casa.
Pensamentos algum ousou correr pela minha mente.
Apenas frio.
Muito frio.
E vazio.
Quando meu mundo, que costuma ser tão barulhento, caiu no silêncio, eu soube que eu havia caído junto.
Por sorte, hoje o frio não não me machuca mais.
