Nome & Endereço (Final) — Púrpura
Leia até entender: eu me chamo Púrpura e você só pode me interromper uma vez.
Engraçado… você me deixou inúmeras mensagens perguntando se estava tudo bem, contudo, lutei contra o desejo ardente de te responder e resolvi fugir dentro da minha própria cidade.
Ah! Uma fuga para organizar os pensamentos, não de você.
Isso não é sobre as suas nuanças.
Cheguei ao Rio Vermelho, passei pela Rua Ilhéus e subi a Rua Alagoinhas rumo ao meu refúgio.
Chego ao Museu Jorge Amado, aceno para a moça da bilheteria que está habituada a me ver e sou arrebatado pelo emaranhado de cores, cheiros e sensações que apenas este particular pedaço de mundo pode me proporcionar.
Passo pelas bonecas na vitrine (já somos íntimos), cruzo com o rosto de Jorge desenhado em uma parede (ele é capaz de olhar a minha alma, algo que você nunca fez) e chego ao meu destino: um pequeno lago com borda amarela que brinca e se destaca no meio de tanto verde.
Cheguei faltando 15 minutos para fechar, mas tenho minhas regalias por aqui… este poderia ser o nosso lugar, mas você não é bem-vindo aqui.
Meu dou bem com as cores, enquanto você insiste em ser uma entidade monocromática que foca demais em si mesmo, uma pena… há muita beleza lá fora.
Meus pensamentos se acalmam, a maresia sobe as ruas do Rio Vermelho e tocam o meu rosto enquanto sinto o anoitecer se achega em Salvador.
O azul do céu se esvai e esbarra nos últimos raios do dia.
Azul, vermelho, violeta ou roxo ou Púrpura, eu mesmo.
Estou mais perto de mim.
Estou mais longe de ti.
Estou aqui, por mim.
E eu estava lá por você, mas não foi suficiente.
Não brilharei como ouro por ninguém, meu caro. Por aqui as marés são lilases e, se não for o bastante, então é melhor que você não venha.
O céu pode até ser azul grande parte do tempo, mas até ele abre espaço para as minhas cores.
Com licença, agora o céu pertence a mim.
Dedicado às cores de Rafael Oliveira.
