Nome & Endereço #6 — Emerson
Era a terceira vez naquele dia que ela rodava pela Via Dutra no trecho entre Vila Santo Antônio da Prata e Rocha Sobrinho, ambos bairros de Belford Roxo.
Em alguns instantes completarão 48hrs deste que Emerson sumiu da frente de casa.
Após fazerem buscas e mobilizarem um bairro inteiro, a família correu para a delegacia e tiveram que escutar que eles só poderiam fazer “algo” após 24hrs do desaparecimento.
Ele tem 10 anos.
A ansiedade vai subindo a cada minuto que se passa e a sensação de impotência a corrói.
Eles estão em silêncio no carro olhando para todos os lados em busca da silhueta do Emerson, a única pista é que ele caminhou em direção a rodovia.
De repente ela se lembra da gritaria na delegacia e do policial dizendo que o filho dela não era um “alvo”.
Alvo, adjetivo que quer dizer “de cor branca; branco, claro”, Emerson é preto.
“Nenhum dos alvos hoje em dia é um ‘alvo’, não é mesmo?” — Questiona ela mentalmente.
Ela pega o retorno, respira fundo e recomeça as buscas.
“Ele vai aparecer!” — Sugere ela mentalmente em tom de súplica.
É uma infeliz coincidência que apenas alguns corpos tem essa propriedade inexplicável de desaparecer… a carne mais barata do mercado.
“Respira… o nosso pretinho vai aparecer!” — Diz a sua irmã no banco do passageiro segurando um fio de contas nas cores azul-claro e turquesa.
Ela assente em silêncio, dá seta, esterce o volante, respira fundo e recomeça.