Nome & Endereço #10 — Ivan
Ele estava sentado na calçada em frente à sua casa na R. Amaral Moreira, em Cuiabá, quando se deu conta de um fato curioso.
Havia um carro parado do outro lado da rua e ele sentia que sua vida amorosa se parecia com o enorme para-brisa molhado que estava na sua frente.
Ao se aproximar daqueles que o atraíam, sentia que eles se afastavam instantaneamente.
Contudo, quando ele resolvia se afastar, os outros se aproximavam e buscavam algum tipo de interação.
Ele se abre.
O outro recua.
O outro se abre.
Ele, com medo, se fecha.
Para ser bem sincero, esta constatação o deixava com ódio de si mesmo e decepcionado pelo seu gosto questionável.
Essa dificuldade de compreender o “melhor momento” fazia com que ele deixasse portas abertas para quase todas as pessoas que cruzavam o seu caminho.
Imagine só… uma porta que nunca se fecha aos demais.
Ciclos que nunca se encerram.
Passos, muitos passos.
Pessoas entrando, saindo, travando fluxos, com o pé entre a porta e o batente impedindo que o outro tome uma decisão.
Então ele percebeu que, ao que parecia, a vontade de “fazer dar certo” havia sumido de dentro dele (e de muitas outras pessoas também).
Este é um daqueles sentimentos reversíveis?
Há fim para esse mormaço sentimental?
Decidiu não pensar muito, sentiu-se exausto e voltou para dentro de casa.
A chuva se aproximava e aquele para-brisa estava, até segunda ordem, emocionalmente indisponível.