Imaginacionamento

Sobre tudo que não se concretiza.

Danilo H.

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Não sobrou absolutamente nada.

Apesar disso, as pessoas seguem o seu caminho olhando o celular, o ônibus atrasou um pouco, mas chegou, e todo mundo parece estar bem.

Não aquele bem de “esse dia está incrível e estou me sentido muito bem!”, mas o “estou bem” mais padrão e robótico.

Mesmo assim, aqui dentro não sobrou nada (de novo).

E para onde vai todo essa energia investida? Se não sobrou nada, como eu posso sentir tamanho peso dentro de mim?

Imaginacionamentos flutuam como penas no ar e pesam uma tonelada.

Tudo que antecede uma relação é um imaginacionamento (nome grande para combinar com o peso dele).

Em um mundo tão desconectado e cada vez mais impessoal, os potenciais relacionamentos orbitam ao redor de nós com vários “e se…” e alguns “quem sabe um dia?” que podem se converter em algo fixo, duradouro e verdadeiro do ponto de vista da realidade.

O resto é imaginação, projeção e expectativa.

Uma vez que essa tríade de sentimentos não caminhe em paralelo com uma comunicação eficaz, é bem provável que elas se inflem.

E o perigo se encontra justamente no acúmulo de tudo aquilo que nunca se tornará real.

A imaginação de cenários que nunca se concretizam ou que sequer são alcançáveis numa relação.

A projeção de atitudes, ações e pensamentos de si nos outros, que pouco sabem o que se passa do lado de dentro

E a derradeira expectativa descolada das reais possibilidades do que pode acontecer (ou não).

Toda energia, investimento de tempo, horas conversando ao lado da tomada, deslocamentos e priorizações podem culminar em uma pilha de nada.

Muito esforço foi feito e para que algo acontecesse, porém, o desejo unilateral ou o desencontro das vontades foi tão grandioso, que não sobrou nada.

E esse resíduo do “Nada” se acumula dentro de cada um de nós toda vez que algo “não dá certo”.

A vida segue.
As pessoas evaporam ou nós as tiramos do caminho.
O ciclo recomeça.
E a cada relação fantasiosa, a vontade de seguir aberto a se relacionar diminui e os rostos aparentam ser cada vez mais similares.

Mesma dor, história distinta.

Será que é uma repetição de padrões?
Precisamos recalcular a rota e rever as prioridades?
O mundo engana a nossa visão ou nós é que não somos claros o suficiente?

Milhares de questionamentos brotam nesse momento pós-relações imaginadas e é quando o peso daquilo que poderia ter sido e não foi se faz presente.

E enquanto decidimos qual será o próximo passo, a vida segue, a catraca gira, uma notificação sobe na tela e o mundo não para.

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Danilo H.

Aqui eu escrevo sobre desconfortos, alegrias e sobre nós.