Imaginacionamento
Não sobrou absolutamente nada.
Apesar disso, as pessoas seguem o seu caminho olhando o celular, o ônibus atrasou um pouco, mas chegou, e todo mundo parece estar bem.
Não aquele bem de “esse dia está incrível e estou me sentido muito bem!”, mas o “estou bem” mais padrão e robótico.
Mesmo assim, aqui dentro não sobrou nada (de novo).
E para onde vai todo essa energia investida? Se não sobrou nada, como eu posso sentir tamanho peso dentro de mim?
Imaginacionamentos flutuam como penas no ar e pesam uma tonelada.
Tudo que antecede uma relação é um imaginacionamento (nome grande para combinar com o peso dele).
Em um mundo tão desconectado e cada vez mais impessoal, os potenciais relacionamentos orbitam ao redor de nós com vários “e se…” e alguns “quem sabe um dia?” que podem se converter em algo fixo, duradouro e verdadeiro do ponto de vista da realidade.
O resto é imaginação, projeção e expectativa.
Uma vez que essa tríade de sentimentos não caminhe em paralelo com uma comunicação eficaz, é bem provável que elas se inflem.
E o perigo se encontra justamente no acúmulo de tudo aquilo que nunca se tornará real.
A imaginação de cenários que nunca se concretizam ou que sequer são alcançáveis numa relação.
A projeção de atitudes, ações e pensamentos de si nos outros, que pouco sabem o que se passa do lado de dentro
E a derradeira expectativa descolada das reais possibilidades do que pode acontecer (ou não).
Toda energia, investimento de tempo, horas conversando ao lado da tomada, deslocamentos e priorizações podem culminar em uma pilha de nada.
Muito esforço foi feito e para que algo acontecesse, porém, o desejo unilateral ou o desencontro das vontades foi tão grandioso, que não sobrou nada.
E esse resíduo do “Nada” se acumula dentro de cada um de nós toda vez que algo “não dá certo”.
A vida segue.
As pessoas evaporam ou nós as tiramos do caminho.
O ciclo recomeça.
E a cada relação fantasiosa, a vontade de seguir aberto a se relacionar diminui e os rostos aparentam ser cada vez mais similares.
Mesma dor, história distinta.
Será que é uma repetição de padrões?
Precisamos recalcular a rota e rever as prioridades?
O mundo engana a nossa visão ou nós é que não somos claros o suficiente?
Milhares de questionamentos brotam nesse momento pós-relações imaginadas e é quando o peso daquilo que poderia ter sido e não foi se faz presente.
E enquanto decidimos qual será o próximo passo, a vida segue, a catraca gira, uma notificação sobe na tela e o mundo não para.