Esquentou De Repente
Eu posso jurar que a água não estava borbulhando quando eu entrei aqui, será que estou num ofurô?
Bom, se for isso, então odiei a experiência!
Mal consigo respirar.
E estou falando sério, esquentou de repente.
Uma hora essa água estava fria, confesso que senti ela ficando morna, mas agora ela está fervendo meus poros!
Queria poder sair, só que…
Esse vapor está mexendo com o meu raciocínio.
Queria pular, mas…
Aqui parece tão conveniente.
E assim o sapo foi cozido numa panela que foi esquentada gradativamente sem que ele soubesse.
Trago péssimas notícias: é bem provável que estejamos em alguma panela neste exato momento.
Eu sei, não parece… afinal de contas, está tudo bem, né?
Foi você que disse, não eu.
Sem dúvidas, é uma grande ironia que uma grande atitude desagradável consiga nos alertar se uma pessoa é boa ou não… enquanto isso, o dissabor experienciado em breves pitadas não ativa os nossos alarmes.
Afinal de contas, já se passou muito tempo e você se acostumou com a tal pessoa, ou com o ambiente… ou pior, se tornou parte dele ao permitir ser moldado por determinada situação.
Não se engane, a sutil escalada do calor ao redor é planejada
Nem sempre é algo visível ou aterrorizador à primeira vista, mas ela se acumula.
Pode ser um comentário esguio, uma atitude arisca ou até mesmo um ato falho, ali é que a base se solidifica.
O que vem a seguir é sempre baseado no que já existe e somasse um nível a mais de sordidez.
Ao aceitar o que dilacera a alma, esfria o corpo e torna o ar pesado, nós permitimos que o calor na panela aumente.
O problema não é o tempo que torna as dores palatáveis, é a esperança de que algo não voltará a ocorrer… só que esse desejo não se concretiza e o ar fica mais difícil de respirar.
E quando o calor for tão insustentável ao ponto de você não conseguir se mover, lhe perguntarão com todas as letras: “Por que você não pulou fora?”.
A permissibilidade pode nos desviar de nós mesmos
Acredito que sapos hipervigilantes não são os que sobrevivem às panelas ardentes, porém, os sapos atentos são os que possuem mais sucesso de notar as mudanças térmicas no recipiente.
Se privar de determinadas situações, pessoas e lugares não irão impedir de se machucar.
Contudo, se os seus limites são bem definidos a cerca do que te faz bem e do que vale a pena abrir mão, talvez você sobreviva ao calor.
Isso mesmo, talvez.
O calor é diferente para cada um, bem como são os limites.
Há quem aceite bem pouco.
Há quem aceite muito.
E todos estão suscetíveis.
Inclusive, ficar na panela é uma escolha também… e não podemos descartar as escolhas dolorosas de sair, ir embora, recomeçar e não olhar para trás.
Realmente, nem todo mundo terá coragem para sair antes que as pernas fervam e a saída seja ainda mais dolorosa (mas não impossível).
Quando a água esquentar, se lembre que tudo muda.
E, claro, lembre-se que nunca é tarde para pular fora e se priorizar.