Dia de Manutenção

Sobre frequência afetiva e o ato de cultivar as relações.

3 min readApr 12, 2024

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Dedicado a todas as pessoas que se esforçam (ou que pelo menos tentam).

No calendário da cozinha, o dia de hoje está circulado em vermelho e ao lado está escrito “Dia de Manutenção”.

Pego uma caneca cheia de café com leite e vou para a sala. Na mesa central, existem cadernos repletos de anotações e, na parede ao lado, há um painel de cortiça de 2m x 2m.

No painel, há anotações fixadas com alfinetes e fotos das pessoas com quem tenho mais intimidade.

Meu celular vibra para avisar que, hoje, duas pessoas farão aniversário e também me traz alguns eventos que terei na próxima semana.

Tiro um momento para analisar tudo aquilo e me dou conta de algo um tanto desconfortável.

A manutenção dos afetos é uma tarefa a longo prazo e que pode mudar de forma com o tempo.

Realizar uma manutenção afetiva não segue uma regra específica e pode ser diferente para cada um a depender de sua frequência afetiva.

Existem pessoas que precisam da presença física, toque e olho no olho de forma constante.

Contudo, existem aqueles que se contentam com uma frequência menor e gostam dessa presença mais virtual quando a presencial não é viável.

Dito isso, é necessário compreender que cada pessoa tem uma frequência distinta e, por vezes, teremos que nos adaptar com o intuito de estarmos presentes para elas.

Não necessariamente um frequência maior está atrelada à carência, tal como ter uma frequência baixa seja sinal de desinteresse.

Aprender a linguagem do outro é um processo que leva tempo e precisamos nos tirar do centro para que tudo faça sentido.

Vale lembrar que a manutenção das nossas relações não pode ser uma obrigação.

Mandar uma mensagem de “feliz aniversário”, perguntar se está tudo bem, abrir espaço para desabafar (e também trocar de lugar para escutá-lo), e combinar um almoço/jantar são exemplos de ações que estão abaixo do “guarda-chuva” da manutenção afetiva.

Independente da frequência que o outro necessita, nenhuma atitude nessa direção deve ser feita como se fosse uma obrigação ou deve partir apenas de um lado da relação.

Dizer que a manutenção não é uma obrigação e, de certa forma, uma forma de liberdade.

Só ficará na sua vida quem estiver em sintonia contigo.

Você não tem que fazer x, y e z por alguém se não quiser, porém, se isso ocorrer de coração e sem a vontade de que algo seja dado em troca, já é um bom começo.

Cultivar uma relação requer um grande investimento de tempo, então escolha as suas com cautela.

Faça valer o tempo que você dedica aos demais, tudo que não for alinhado previamente ou que pareça suspeito, não vale a pena ser levado adiante.

E isso se aplica a nós também, pois talvez sejamos justamente a pessoa que não é presente e que não cultiva a relação da forma que deveria ser.

A manutenção pode não ser uma obrigação, mas ela é importante para que a relação dure… tudo termina um dia, então cabe a nós entender onde depositaremos o nosso tempo e atenção.

Manter alguém na nossa vida não deve ser cansativo ou duvidoso.
Lembre-se que oesforço da manutenção é algo tão caro que não tem preço.

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Aqui eu escrevo sobre desconfortos, alegrias e sobre nós.