Dedico esse texto a uma mulher vestida de amarelo e introspectiva demais para perceber que eu a notava do outro lado da mesa. Quando meus olhos caíram nela senti o mundo silenciar… há tanto para se ver ao redor… Espero que você tenha encontrado aquilo que procurava.
Bar dos Arcos, 20h.
Fugido da chuva corri de mãos dadas até um lugar mágico, íntimo e peculiar demais para ser visto à altura dos olhos, por isso descemos as escadas do Theatro Municipal a fim de achar a luz na escuridão.
Caminhamos por arcos iluminados propositalmente por uma luz baixa que permitia que todos os assuntos possíveis e imagináveis acontecessem ali… eis então que sentamos, fizemos o nosso pedido e algo agarrou minha atenção lá do outro lado.
Era você.
As pessoas conversavam sobre todo o tipo de coisa, das mais bizarras as mais supérfluas possíveis… uma onda efervescente tomava os quatro cantos daquele bar, contudo foi o seu olhar no meio de tudo me tirou das órbitas.
Você perguntou umas 5 vezes aos garçons se a sua companhia tinha chego, mas nada ainda… você estava sozinha e impaciente naquele lugar mágico… bem, mágico para mim… para você era só mais um bar sem “Aquela” pessoa.
Notei que você checou o celular dezenas de vezes, se remexeu na cadeira em incontáveis momentos durante a noite e percebi também que você olhava para as outras mesas admirando tudo que via… penso que você não via a hora de isso acontecer com você.
O desencontro gera incalculáveis possibilidades que podem (ou não) se concretizar… não importa onde você esteja, se não for com as pessoas certas ele se torna apenas mais um lugar entre os milhões existentes nessa cidade.
Lá fora se formava uma fila de pessoas ensandecidas para adentrar o bar, mas nenhuma delas era quem você mais desejava. Lá fora todos esperavam o seu momento mágico, a hora de fazer um post, de beber um drink e de colocar a conversa em dia, entretanto você já estava lá e nada lhe agradava aparentemente.
Cardápios, música ambiente, bartenders, risadas, comidas elaboradas, bares disputados… de nada isso vale quando a pessoa certa não está no seu campo de visão. O lugar foi ressignificado devido a ausência.
A ausência que dói no fundo da alma.
A ausência que só se cura com a chegada.
A ausência que corrói os pulmões e acelera a respiração.
A ausência que torna claro as conexões, há uma parte dela em alguém (e vice versa).
Esse desencontro foi responsável por um estupor tamanho que você não conseguia seguir adiante, algo te dizia que nos próximos minutos a pessoa apareceria… só que os minutos foram acumulando e suas expectativas se tornaram pesadas demais para serem tragadas junto ao Martini que repousava ao seu lado.
Talvez fosse a tempestade lá fora.
Provavelmente foi o trânsito caótico dessa cidade.
Há quem diga que a tal pessoa ficou presa no trabalho.
Mas há também a possibilidade de tudo ser uma desculpa esfarrapada.
Há rumores (criadas pela mente) de que tudo aquilo era uma encenação.
Esse medo maluco de nunca sabermos quando será a última vez.
Existe muita solidão em uma bar, em uma mesa vazia.
Uma energia presa que não se mistura.
Na verdade se mistura, contudo a falta de um motivo a afugenta.
Vi alguém se aproximando do lugar vago a sua frente e você fez questão de reiterar que o mesmo “estava ocupado” por alguém que “estava a caminho”, será mesmo?
Após alguns drinks me retirei daquele lugar aos risos, porém não pude deixar de olhar por cima do ombro apenas para constatar que aquela cadeira permanecia vazia, diferente do seu copo que tinha outra cor e outro conteúdo.
Espero que o desencontro tenha sido só um susto.
Um atraso ocasionado pelo caos da metrópole.
Uma mera casualidade curada logo em seguida pelo alívio.
Ou quem sabe feito propositalmente por conta de uma bela surpresa.
Espero que você tenha encontrado o seu significado mágico naquela noite.