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Como É Que Se Pede Desculpas?

Sobre entender uma vulnerabilidade.

Danilo H.
3 min readFeb 24, 2023

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Antes de seguir, descalce as sandálias do ego.

Quase cinco anos depois de escrever um texto sobre a necessidade de aprendermos a cair, eu me vi em uma situação de repleto desconforto.

Me vi inserido em bate-boca devido a um contraponto de ideias, contudo, uma das partes se sentiu atacada e machucada.

Em meio ao rebuliço de vozes que se sobrepõem, dedos apontados na cara e uma das partes dizendo “Claro, você está sempre certo!”, um silêncio tenebroso tomou conta do ambiente.

As duas pessoas se olharam e saíram em disparada para cantos opostos da casa… e eu fiquei sentado bem no meio da sala, atônito.

Adoro contrapor ideias, mas tenho pavor de discussões feitas aos berros.

No dia seguinte, as pessoas se encontraram, um deles fez um comentário gentil e, magicamente, tudo voltou ao normal… a não ser pelo fato de que eu tive um enorme choque de realidade durante o café da manhã.

Pelo que eu me recordo, minha família não costumava pedir desculpas após uma discussão.

Como é que você pede desculpas?
É com palavras?
É com um presente?
É com uma atitude?

Cheguei nesse pensamento quando notei que muitas discussões e brigas que presenciei ao longo da vida, dentro e fora de casa, se “resolveram” sem um pedido formal de desculpas.

Por algum motivo, eu acabei indo pelo caminho oposto: a ausência das desculpas e suas variações me deixam em alerta.

Ironicamente, na infância, a gente aprende a pedir desculpas quando cometemos algum erro.

Porém, as agressões e microagressões vão mudando ao longo da vida.

Quando pequenos, um beliscão ou uma “palavra feia” devem ser corrigidas com um “me desculpe” de imediato.

Já na adolescência, temos, por vezes, a presença da violência física, da intimidação (o tal do bullying) e uma série de outras agressões que se repetem na vida adulta de forma ainda mais intensa (e, por vezes, velada).

Será que o ato de pedir desculpas perdeu o seu efeito ao longo dos anos?

Um dos grandes momentos de vulnerabilidade do ser humano é saber reconhecer que está errado.

Pedir desculpas não é fácil e, muitas vezes, precisamos passar por cima do que acreditamos para fazer as pazes com alguém.

Já conversamos uma vez sobre fato de que perdoar não é um dever e sim um privilégio concedido a alguém, mas nunca mencionamos o momento da derradeira decisão.

Dar um passo para trás e dizer “Eu cometi um erro! Me desculpe!” parece algo de outro mundo para muitas pessoas.

Ninguém quer dar o braço a torcer.
Ninguém parece se preocupar mais.

Então por que raios muitos de nós prefere fingir que está tudo bem e seguir adiante? É assim tão difícil assumir um erro?

E nem precisa ser algo instantâneo, acredito que tirar um tempo para entender o erro cometido faz parte da vida!

Não se desculpar e retomar o contato como se nada tivesse acontecido, é uma bomba-relógio!

Você pode me dizer que nunca pediu “desculpas formais” e que tudo segue tão bem como antes junto ao seu parceiro, ou pode dizer que a sua linguagem do amor são atos de serviço e, por isso, você prefere fazer algo pela pessoa “em forma de desculpas”, contudo, eu ainda manterei meu posicionamento sobre a bomba-relógio.

Absolutamente nada é capaz de substituir o momento genuíno de olhar para alguém e dizer: “Ei, me excedi! Me desculpe!”.

E não importa se você “acha” que não feriu o outro… se a pessoa disser que se sentiu machucada, é sinal que você cruzou uma linha e precisará arcar com essa responsabilidade.

Só pedir desculpas não resolverá nada, são nossas atitudes a partir disso é que desenharão os próximos passos, porém, penso que marcar esse momento é importante.

Pedir desculpas é, antes de mais nada, um comprometimento.

Ainda não sei qual é o jeito certo de pedir desculpas, mas o primeiro passo, sem dúvidas, é fazê-lo.

Troque o ego pelo diálogo, geralmente funciona.

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Danilo H.
Danilo H.

Written by Danilo H.

Aqui eu escrevo sobre desconfortos, alegrias e sobre nós.

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