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Bandeiras Vermelhas — Desdém

Corpo dormente e luzes que piscam.

Danilo H.
2 min readAug 21, 2023

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É indicado ler “Bandeiras Vermelhas — A Central (Prólogo)” antes de continuar.

Tipo de Bandeira Vermelha: Invalidação / Desrespeito (#4)
Ocorrências Globais: 52.811.338
Letalidade: 7/10
Gerando relatório descritivo…

Olho para o relógio e finjo ter o poder de parar o maldito ponteiro dos segundos… não quero que ele avance, não quero que você chegue.

Pontualmente, às 19h, a porta se abre, você coloca seus materiais de trabalho sobre a mesa da sala e vem até mim, na cozinha.

Meu cérebro começa a insistir para que eu sorria para ti e, tardiamente, esboço um sorriso amarelo e solto um “boa noite”.

Você pergunta como estou, mas não me dou o trabalho de responder, pois você (sempre) perde o interesse em saber a resposta e começa a falar de você.

Anestesiado.
É assim que me sinto.
Quando seu corpo se faz presente no mesmo ambiente que o meu.

Deixo você falar.
Rio uma vez ou outra.
Me comunico com os ombros.
Sempre funciona, pois não passo de um estranho ao seu lado.

De repente, esbarro em um copo que estava na beirada da pia e ele se estilhaça no chão.

Acordo do transe e dou de cara com você me olhando do outro lado da cozinha.

Tirado daquele transe automático, sou jogado na cova dos leões que se encontra no fundo dos seus olhos.

Cólera, desdenho e um sem fim de insultos escorrem da sua boca e me atingem feito flechas incendiárias.

Na minha visão periférica, noto as luzes piscarem.
O relógio anda devagar.
A dor se arrasta.

Cada xingamento ou piadinha infame ainda me machuca, eu já deveria ter me acostumado.

Capacho.

Não consigo revidar, pois, com o passar do tempo, passei a ler algumas delas como verdade.

Essa é a pior parte.
Eu deveria ter parado antes.
Agora é tarde demais.
Não conheço ninguém capaz de te
desmentir.

Jogo todos os cacos de vidro no lixo e, de soslaio, ainda vejo seu maxilar se movendo de forma ágil.

Volto aos meus afazeres.
Sirvo o jantar.
Você come primeiro, não me espera e parte para o seu banho.

Me sento, aproveito os próximos 15 minutos de breve solitude e janto com a única companhia que me restou nessa casa.

As luzes piscam de novo e se apagam de vez.
Muitos sentiriam medo, porém, me sinto confortável na ausência de luz.

Infelizmente, me acostumei com as ausências.

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Danilo H.
Danilo H.

Written by Danilo H.

Aqui eu escrevo sobre desconfortos, alegrias e sobre nós.

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