Arquivo Final — Por Você Eu Pegaria O Último Ônibus.
21h40.
Eu sempre perco o ônibus das 21h45, inacreditável!
Tento adiantar as coisas o quanto posso, mas algo sempre me atrasa…
Às vezes tenho a impressão de que você também me atrasa.
Engraçado… há 07 meses escrevo esses Arquivos sobre você, uma copilação de tudo que andei sentindo, sofrendo, desejando, praguejando e delirando aos poucos.
Eis que agora me sinto numa casa nova sem móveis, percebo que algo já aconteceu aqui, mas o quê? Não sei, não me recordo.
Entrei na estação.
21h41.
Olho o relógio do celular e tenho plena certeza de que não vai dar… é a mesma sensação que eu tinha com você… de que algo não iria funcionar não importa o quanto eu corresse ou me esforçasse.
É muito difícil assumir que algo é em vão.
Mas hoje tomei coragem.
Não posso ficar para trás sempre.
Apertei o passo.
Desci as dezenas de escadas.
Corri para a porta 15.
O próximo trem chega em um minuto.
21h42.
Passei tanto tempo tentando entender, cai dentro de mim e agora posso levantar com mais segurança.
Eu perambulei por aqui e por aí quaaaase sem rumo, só que agora me encontrei de volta.
Cortei o último fio que ligava minha vida a sua, aquele fiozinho silencioso e virtual.
Sem ressentimentos.
Não há culpados, mas teve dor.
E, de novo, sem ressentimentos.
Entrei no trem.
21h43.
Estou correndo contra o tempo, mas se você me ligasse há uns 07 meses, eu pegaria o contra fluxo no mesmo instante.
Voltaria pelo caminho para te encontrar, te ver e sorrir com você.
Uma cerveja, uma viagem, um momento em silêncio, não importa!
Eu voltaria.
Mas hoje eu estou muito ocupado comigo mesmo.
Hoje estou de mãos dadas comigo… ou faço uma coisa ou faço outra.
Ou faço bem a mim mesmo ou faço bem a você.
Só agora entendo que algumas coisas são inegociáveis.
Desci na estação, é agora.
21h44.
Tomo fôlego, subo correndo os dois lances de escada rolante, viro à direta, passo pelas catracas e subo correndo novamente o último lance de escadas (ignoro, portanto, o aviso para não correr).
Chego na rua e vejo o letreiro do meu ônibus, ele ainda não saiu, então me apresso respirando rápido.
Lembro de quantas vezes eu fiquei até tarde da noite para pegar o último ônibus por ti, acredito que esse hábito ficou no passado, ninguém merece tanto.
O ônibus saiu da plataforma, encontrei com ele na faixa de pedestres, dei sinal e ele parou. O motorista me olhou, acenei com a cabeça e ele assentiu de volta.
Consegui!
21h45.
Sento gloriosamente no meu assento favorito (último banco da esquerda na janela) e vejo a cidade passar lá fora enquanto vou para casa.
Te deixei na estação com a pessoa que eu costumava ser.
Esta noite e nas próximas eu voltarei para casa comigo.
Não posso voltar para o que não existe.
É bom estar seguro de novo.