Arquivo #9 — Perfume.
Parei para comprar algo para comer a caminho do trabalho, entrei em uma padaria, fiz meu pedido e fui para o caixa.
E você estava lá.
Não fisicamente…
Mas personificado através de uma fragrância de perfume.
A pessoa do outro lado da bancada deve ter achado cômico como eu tropecei no tempo e espaço enquanto sentia aquele odor.
O seu odor.
Você usava tanto esse perfume que ele deveria ter o seu nome.
Como você se chama mesmo? Faz tanto tempo.
A memória afetiva veio primeiro do que a memória episódica, foi como andar de bicicleta e não se lembrar como foi a primeira vez que me estatelei ao subir em uma.
Aquele cheiro me invadiu tão fortemente que me lembrei daquele dia que te segurei pela cintura e beijei seu pescoço numa tarde abafada, a fragrância do seu perfume misturada ao suor que surgia timidamente sob a sua pele.
Você gemeu no meu ouvido e eu te apertei mais forte.
Te tenho (ou tinha) na ponta da língua.
Lembro de como aquele perfume ficou impregnado nas minhas roupas por meses desde que você partiu e como fiz um grande esforço para tirá-lo quando você foi arremessado pelas janelas da minha mente.
Um pigarro de realidade mais tarde eu pedi desculpas para o atendente, o paguei e segui meu caminho.
Aquele cheirou me trouxe memórias de uma região em quarentena dentro de mim.
E não se engane, não sinto sua falta.
No máximo sinto falta de quem eu era.
Mas só por curiosidade, qual é mesmo o nome do perfume que você costumava usar?