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Abrigo Temporário

Sobre ser um lugar de passagem

Danilo H.
3 min readFeb 16, 2024

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Este é o sinal que você estava esperando para fechar aquela porta.

Olho rapidamente pelo fresta da cortina e vejo que uma fila se forma do lado de fora, porém, hoje o Abrigo não abrirá as portas.

Na verdade, esse lugar ficará fechado para todo o sempre.

Ando na ponta dos pés, desligo a chave de luz daquela lugar que recebeu tantas pessoas diferentes (veja bem, não disse que elas eram boas) e saio cautelosamente pelos fundos.

Carrego apenas uma mochila com meus pertences, pois nada daquele lugar me apetece mais.

Aliás, dar vida a um Abrigo temporário não estava nos meus planos.

Tudo começou com a melhor das intenções.
Primeiro foi um afago, depois uma compreensão.
Em seguida, houve a tolerância.
E quando eu percebi, minha vida virou uma rodoviária.

Lugar de passagem.
Onde as pessoas ficam por pouco tempo, mas nunca se demoram.

O primeiro foi embora.
O segundo morou no Abrigo, porém, numa certa manhã, sumiu no ar feito fumaça.
O terceiro quase me colocou para fora do meu próprio Abrigo.

E mesmo depois de muita análise, criar regras e um zilhão de etapas de segurança, a dor das partidas não cessaram.

A conveniência e capaz de burlar os sentidos.

Ser um Abrigo para as pessoas é a tarefa mais ingrata que existe, por isso estou indo embora.

Abracei uma responsabilidade que não era minha… como já diria uma pessoa um tanto questionável: “o problema é de quem colocar a mão!”.

E eu coloquei a mão (e um pouco mais).
Me derramei.
Transbordei.
Escorri.

Mas a que custo?
Exatamente.
Nenhum.

Eu deveria ter antecipado que abrir espaço para pessoas esguias, vazias e com o ego desesperado só poderia ocasionar dor.

E veja só que irônico, um lugar repleto de pessoas consegue ser, ao mesmo tempo, um belo conglomerado de vazios.

Um vazio tão grande que a ninfa Eco poderia facilmente fazer morada ali.

Não tenho mais paciência para pessoas temporárias, cheguei no meu limite.

Quem abriga o Abrigo?
Quem varre o chão, limpa as paredes e perfuma os ares desse lugar?
Exatamente, também não faço ideia.

A uma quadra de distância, vejo pessoas discutindo e escuto um bate-boca daqueles que fazem as mãos suarem.

Ninguém se importa com quem está disposto a dar um abrigo da dor, do frio, do calor, da rejeição e da tristeza.

Não posso aceitar este presente de grego que me tornou um lugar de passagem.

Fui a escada, o corrimão, a porta, o ar, o calor que afaga a alma, a bebida que desce queimando pela garganta e a paz no caos ao redor.

Mas não hoje, não mais.

Não permiti que o Abrigo saísse de mim nesta manhã e fosse ao encontro dos demais, pelo contrário, o mantive aqui dentro e fui-me desse lugar doente.

Este abrigo fechou.
E não importa o quanto tentem revivê-lo, nada será como antes.

O toque final corre pelas minhas veias.
Finalmente voltei a mim.

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Danilo H.
Danilo H.

Written by Danilo H.

Aqui eu escrevo sobre desconfortos, alegrias e sobre nós.

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