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A Falsa Intensidade

Sobre um equívoco muito comum.

Danilo H.
3 min readMar 29, 2023

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Algumas pessoas emocionadas não vão gostar dessas palavras…
E esse é o intuito.

O relógio marcava duas horas da manhã quando te encontrei em um momento de completa indignação.

Me juntei a você no chão da cozinha e, com uma garrafa de vinho branco entre nós, você despejou uma chuva torrencial de palavras, ideias e algumas coisas desconexas sobre fazer muito por alguém e não ter o mesmo empenho de volta.

“Hours”, da FKA Twigs, começou a tocar na caixinha de som e você me perguntou o que eu achava de tudo aquilo. Eis que eu disse que você cruzou uma linha que não deveria.

Em algumas situações, o amor não é suficiente… e a intensidade segue pelo mesmo caminho.

A intensidade teve seu real sentido esvaziado e hoje se encontra escondida na manga de muitas pessoas que buscam justificar suas atitudes com ela.

Algo que deveria ser construído, sentido, lapidado e maturado se tornou uma bomba-relógio que pode explodir no colo de qualquer pessoa desavisada.

Se o amor por si só não é suficiente para fazer alguém ficar ou até mesmo gostar de você, quiçá será a intensidade.

Inclusive, amor e intensidade parecem irmãos inseparáveis.

Existe algum tipo de amor que não seja intenso? Há qualquer tipo de intensidade que não esteja ligada ao amor?

A resposta é a mais simples de todas: “Sim, há!”.

Aliás, não se esqueça que a intensidade é sua, e não do outro!

Longe de mim ser inimigo da intensidade (inclusive, relações intensas costumam ser muito gostosas), mas antes de batermos no peito e gritarmos que somos pessoas intensas, precisamos entender que tipo de intensidade é essa.

Se derramar em cima de alguém esperando algo em troca.
Forçar uma intimidade que ainda não existe.
Projetar expectativas no outro.
Exigir afeto.

Se esconder atrás de um rótulo muito conveniente parece ser uma atitude um pouco arriscada, não acha?

Muitos estão prontos para dizer que são intensos, mas poucos estão interessados em realizar a manutenção desse sentimento tão único.

São tempos de escassez de afeto, mas isso não é desculpa para afogar os demais em sentimentos impensados.

Da mesma forma que dizer “eu te amo” apenas para transar com alguém é algo descabido, apostar suas fichas em uma intensidade de fachada pode te custar um enorme choque de realidade.

Afinal, bombardear o outro com afetos, exigir intimidade e choramingar pelo ego não massageado não é intensidade, isso se chama narcisismo (e já falamos sobre isso em algum momento).

Se agarre à sua linguagem de amor e vá fundo: demonstre, presenteie, afirme aquilo que você sente, toque e passe um tempo de qualidade com aquela pessoa.

Entretanto, não faça nada disso se a sua intenção é se vangloriar com o título de “intenso” ou apenas conquistar o outro para depois escolher uma nova vítima.

Repito: o nome disso é canalhice narcisista.

Todo tipo de excesso faz mal, especialmente aquele que finge ser algo que não é.

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Danilo H.
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Written by Danilo H.

Aqui eu escrevo sobre desconfortos, alegrias e sobre nós.

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